Precisamos falar sobre o Rotten Tomatoes

(Ou uma apologia à crítica especializada)


Já virou rotina: na semana anterior à estreia de qualquer blockbuster, uma enxurrada de críticas toma conta dos noticiários. No nicho das adaptações de quadrinhos de super-heróis, que na atualidade sobrevive basicamente da propriedade intelectual das Big Two — Marvel (atualmente pulverizada entre Disney/Sony e Fox) e DC (concentrada com a Warner Bros) —, a comparação com a concorrência virou praxe.

Se a maioria das críticas ao novo "melhor filme de super-herói de todos os tempos" da companhia X for favorável, fica "óbvio" que ela comprou os críticos; se for negativa, não menos "evidente" que os críticos foram comprados pela concorrente Y. Mas, afinal, quem queremos enganar?



No fim das contas, quem é o crítico profissional? Primeiramente, um ser humano. Atentemo-nos a esse fato: ele é humano. Tem emoções. gostos, opiniões, algumas mais fortes que outras. No entanto, como o próprio nome diz, ele é "profissional", e parte de seu profissionalisdismo deve ser medida pela sua capacidade de mascarar opiniões pessoais e escrever uma crítica "imparcial".

Se já absorveu esse fato, aqui vai outro: ele é uma face. Opinião todos temos. O que o crítico profissional vende é a credibilidade ligada a seu nome ou, como diriam os mais velhos, sua "palavra". A quem interessa um crítico comprado?

Será que críticos freelancers ou contratados de CNN, New York Times, TIME, Variety, Associated Press — todos eles atribuíram conceitos ruins ao novo filme do Esquadrão Suicida, apenas a exemplo — leiloariam sua palavra à quem pagasse mais? Caso você não confie na credibilidade do seleto grupo de "top critics" do Rotten Tomatoes, permita-me repetir essa parte: opinião todos temos, e a dos críticos profissionais só tem valor enquanto são levadas a sério.

O Rotten Tomatoes é um agregador de críticas. Não é igual ao CNN, New York Times, blá-blá-blá que eu citei acima. É um site que reúne críticas profissionais e amadoras e tenta extrair um sentido disso.

No caso específico do Rotten Tomatoes, sua metodologia é bem clara: contabiliza a porcentagem de críticas que "recomendam" o filme (numericamente, isso equivale à porcentagem de críticas com nota superior a 60%) em relação ao total das críticas recolhidas.


Confira valor atualizado aqui.

Ou seja, das 121 críticas profissionais escolhidas, 31% "recomendam" assistir ao filme, enquanto que os 69% restantes dizem o contrário. Perceba que isso difere da nota média dada pelos mesmos críticos [contornada de vermelho na imagem acima], que é de 49%.

Seu principal concorrente é o Metacritic, mantida pelo IMDB, que simplesmente faz a média das notas dadas pelos críticos.

Confira valor atualizado aqui.

A média das notas dadas pelas 43 críticas profissionais recolhidas pelo Metacritic é de 42%. Simples assim!

Ironicamente, a média das notas dadas pelo Rotten Tomatoes é maior do que a do IMDB. E, se isso não for suficiente, permita-me lançar mão de um último fato: a Warner Bros é dona de 30% do site Rotten Tomatoes — e até fevereiro desse ano, essa quantia era de 100%. Duvida? Clique aqui.

Se alguém pode ser criticado pela falta de credibilidade e transparência, são os sites em que "fãs" dão notas aos filmes, como o IMDB, onde frequentemente é possível verificar dezenas ou até mesmo centenas de milhares — CENTENAS DE MILHARES! — de críticas, obviamente inventadas, antes do lançamento do filme ao grande público.

Então, antes de fazer um abaixo-assinado para calar o Rotten Tomatoes, lembre-se de cobrar os verdadeiros responsáveis pelas notas baixas dos filmes, nessa exata ordem:

  1. Os estúdios, que fazem filmes ruins (note o itálico);
  2. Os críticos, que são humanos e arriscam sua credibilidade, que é sua maior mercadoria, ao criticá-los.

Como diz o provérbio: Don't shoot the messenger.

Eu já antecipo que esse texto possa gerar bastante polêmica. Deixe sua opinião nos comentários, para podermos manter um diálogo civilizado sobre esse tema tão intrigante.

0 comments: